domingo, 28 de dezembro de 2008

Ariane

Já não escrevo por aqui há imenso tempo. O momento da escrita não deve ser forçado, deve ser uma concretização que nos satisfaça. E não me tem apetecido escrever. Assim, deixo-vos um poema de que sempre gostei, talvez pela sua promessa de liberdade.



Ariane


Ariane é um navio.
Tem mastros, velas e bandeira à proa,
E chegou num dia branco, frio,
A este rio Tejo de Lisboa.


Carregado de Sonho, fundeou
Dentro da claridade destas grades...
Cisne de todos, que se foi, voltou
Só para os olhos de quem tem saudades...


Foram duas fragatas ver quem era
Um tal milagre assim: era um navio
Que se balança ali à minha espera
Entre as gaivotas que se dão no rio.


Mas eu é que não pude ainda por meus passos
Sair desta prisão em corpo inteiro,
E levantar âncora, e cair nos braços
De Ariane, o veleiro.


Miguel Torga